Autismo: Como sobreviver ao primeiro dia de aula

Sabe aquela mãe que você vê esperando no portão do jardim de infância? Lembra que você a viu derramar uma lágrima, com o coração na mão, por ter deixado seu filhinho na escola pela primeira vez?
Pois é, essa mãe sou eu todo santo início de semestre.

Com as férias, o ritmo de terapia diminui, a rotina se torna indefinida e não há muita rigidez com horários. Então, todo esse tempo extra (e desregulado) ele passa com a mamãe aqui.

“Como assim?! uma criança nunca passa tempo demais com a mãe!”
“Que absurdo! Onde já se viu uma pessoa que não quer cuidar do próprio filho nas férias?”

Ok, me julguem! Mas, antes, pensem que quem tem um filho autista e precisa prepará-lo para um mundo sem a mãe dele, sou eu, né minha gente?!
Caio, assim como muitas outras crianças autistas, tem tendência a me pedir tudo. TU-DO. Ele quer que eu abra a geladeira pra ele pegar água, quer que eu ligue a tv, quer que eu abra o guarda-roupa para ele pegar coberta e muitas outras coisas simples que Caio pode fazer sozinho. Eu digo (e mostro) que ele consegue fazer sozinho, que ele sabe como fazer, que ele pode ser independente e a volta às aulas e a rotina da escola me ajudam nessa tarefa, porque Caio sabe que EU , a mamãe, não vou estar lá. É preciso que ele aprenda a confiar em si! E, se precisar de ajuda, entenda que pode confiar nos amiguinhos, na professora e na mediadora. Por essa razão, o “fechamento” com a escola é fundamental.

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Caio usando pincel e tinta para fazer um trabalho escolar.

Algumas perguntas e atitudes antes das aulas começarem:

_ Os país poderão entrar na sala no primeiro dia (para acompanhar o filho até a sala)? Talvez levar Caio um pouco mais tarde seja mais apropriado. A sala e os corredores estarão cheios e pode ser meio tumultuado.
_ Alguém buscará meu filho no portão e levará até a sala? Porque a sala não costuma ser a mesma, né?! Meu filho pode se perder nos corredores e se sentir sozinho ou ter uma crise.
_ Entregar, previamente, uma carta de apresentação da criança à professora. Para que, desde o primeiro dia, ela saiba como interagir com ele.
_ Pedir para que a professora preste atenção ao Caio e, se necessário, me peça para buscá-lo antecipadamente. Afinal, meu filho não é obrigado a se “encaixar na rotina” da nova série/sala/amigos logo no primeiro dia, né?

Para o autista, a mudança na rotina é complicada e, algumas vezes, traumática. Portanto, a família e a escola precisam estar juntas para transformar essa experiência, que tem tudo para ser ruim, em algo bom. Mostrar para a criança que algo novo, diferente, pode sim ser seguro e divertido.

NOTA: Mesmo assim eu fico apreensiva e angustiada toda volta às aulas. Fazer o quê?

Maternidade: A Única Exceção

Por Rosele Ramos

“You are the only exception, you are the only exception…” (“Você é a única exceção”)

Conhece essa música? Volta e meia me vejo cantando pela casa. Hoje foi um dos dias em que a música ficou martelando na minha cabeça. Mas dessa vez, me veio – além da melodia – uma reflexão nova enquanto pensava e cantava “you are the only exception, you are the only exception…”

Pensei que a minha only exception* no mundo inteiro – a minha única exceção – é o meu filho. Acho que isso tem a ver com o tal amor incondicional. Quando pensamos que não há nada que não faríamos, não há regras que não quebraríamos em nome desse amor visceral que nos move, em nome dos nossos filhos.WhatsApp Image 2020-02-13 at 10.45.07

Mesmo quando dizemos que outros amores são infinitos, no fundo a gente sabe que sempre há um limite, algo que não se perdoa, algo que pode morrer com o tempo. No fundo, a gente sabe que há condições. E é o certo porque não podemos nos manter em situações ou relações que nos machuquem, por exemplo. Pelo menos, não para sempre.

Mas o amor pelos nossos filhotes transcende as condições.

A gente ama na pirraça, na dificuldade, na rebeldia adolescente. A gente ama no cansaço. A gente ama mesmo se estamos magoados, zangados, frustrados, decepcionados. A gente ama 1000 por cento. Intensa e plenamente. E somos capazes de ir até as profundezas de Hades** por eles. E mais longe, se for preciso.

Porque eles são nossa única exceção. The only exception.

*única exceção

**Hades é o deus grego do submundo, do reino dos mortos.