Autismo: Quando se é uma mãe ruim

Mãe é abraço apertado, é cafuné na cabeça, é bolo quentinho, é brincar de pega-pega, é beijo de boa noite. Mãe não poupa esforços para divertir a cria e dar amor. Mas, infelizmente, em muitas situações, a mãe tem que ser a malvada.

Quando o filho está doente e tem que ser medicado, por exemplo. Que criança gosta de tomar Novalgina (ou qualquer outro remédio do tipo)?

Aqui em casa, sempre foi muito difícil. Só forçando a barra. Me sinto uma mãe horrível toda vez que tenho que segurar meus filhos para dar o bendito medicamento. Dá um aperto no peito. Mas, é a mãe quem TEM que desempenhar esse papel.

Pra mim, a pior parte de ser uma mãe ruim é quando a criança está com febre e você já medicou. O que fazer agora? Qual a recomendação médica? Banho frio. Ter que pegar aquele serzinho, mole, febril, caidinho e colocar numa banheira de água fria… Só a mãe! Os gritos, o choro, a força descomunal com que me seguram no pescoço se puxando para fora… É triste demais! Gente, é tris-te-de-mais!

Outro exemplo que me corta o coração e faz-me sentir uma péssima mãe é a alergia da Olivia. Ela fica com o corpinho todo empolado, se coça muito e se machuca. Lógico que o tratamento não podia ser só passar um creme/pomada. E sim, injeção semanal. Lá vou eu, a mãe, ser a megera novamente. Todas às vezes, a menina me olha com uma cara de pavor e suplica: “Não, mamãe! Não, por favor!” Com o coração apertado, lá vou eu furar minha filha.

Daí, você pensa: ah, mas é saúde e com saúde não se brinca. OK. E quando a mãe erra por achar que algo será bom para o filho e descobre que foi o maior terror que alguém poderia provocar numa criança? Vou explicar:

Ontem, levamos nossos filhos ao shopping. Havia um brinquedo enorme em forma de torre, por onde os pequenos escorregavam numa espiral mega alta. Olivia entrou no brinquedo super animada, subiu e desceu mil vezes. Sempre gargalhando.

Caio ficou excitadíssimo vendo as outras crianças subirem, mas não conseguia passar do primeiro degrau. Acredito que por conta do autismo, ele estava MUITO nervoso e não conseguia ir à diante. Uma recreadora se dispôs a ajudá-lo e foi subindo a escada com ele, mas Caio sempre desistia. Foi, então, que recebi sinal verde para acompanhá-lo. Conforme ia subindo, o garotinho vinha animadão atrás de mim. Fiquei feliz (imensamente feliz) em ver meu filho subindo, rindo e dando uns gritinhos de nervoso. Estávamos chegando até o topo! Lá em cima, coloque-o no meu colo e escorregamos.

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O túnel era branco. Branco tipo interior de nave espacial! Aquilo era diferente de tudo que Caio já tinha visto na vida. Ficou com muito medo e, no meio do caminho, quis voltar.

Não dava pra voltar.

 

Havia outras crianças atrás da gente, rindo e gritando. A única solução era abraçá-lo e descer o mais rápido possível. Agarrei meu filho e senti suas unhas entrando em meu braço, cheio de medo. Ele gemia e escondia o rostinho no meu peito. Senti seu pavor. Foi horrível! Quando chegamos ao fim, ele me largou e correu desesperado para o pai, agarrou seu pescoço e não largou mais. Meu coração se partiu. Não por ele ter corrido para o pai, mas por eu, A MÃE, não ter antecipado aquela reação e ter provocado tamanha angústia ao meu filho. Por que não mostrei o túnel branco a ele antes de entrar? Caio é autista, precisa ter essa antecipação e decidir se está pronto ou não para a atividade proposta.

Precisei de alguns segundos para me refazer. Senti-me a escória do mundo materno (sendo POUCO dramática).

Depois de um tempo, fui falar com Caio: “Está tudo bem, acabou e não vamos subir mais”. O menino virou a cabeça e agarrou o pai mais forte. Fui para o outro lado, para que ele me visse e, novamente, virou o rosto. Pedi para que viesse para o meu colo para lhe dar um abraço e pedir desculpas, mas ele estava de mal comigo. Me senti a pior mãe do mundo! Achei que ele fosse gostar de escorregar. Queira que experimentasse a mesma sensação das crianças que estavam atrás da gente sorrindo e gritando. Mas meu filho não é como as outras crianças, né?

Fica o aprendizado e o sentimento de erro. Mas, a vida segue e, lógico, a gente vai acertando também. Uma hora, o choro vira gargalhada, a cara amarrada vira um sorriso e o terror, uma lembrança distante. Afinal, mãe é amor incondicional, é coração forte, é luta diária pelo bem estar dos filhos.

P.S.: Caio me perdoou depois de uns 15 minutos… 🙂