Autismo: As mães e suas metAMORfoses

Como maio é o mês das mães, é inevitável refletir sobre o quanto a vida da gente muda com a maternidade.
Antes dos filhos, tudo era trabalho, estudo, papo com as amigas, cinema, almoço fora com o marido, viagens…Mas, como toda mãe sabe, os dois primeiros anos são atribuladíssimos. A gente não tem tempo pra lavar o cabelo, cortar as unhas nem ir ao banheiro sozinha. Socorro!

Pra mim, as dificuldades apareceram logo na gravidez. Estava carregando gêmeos, tinha muitas contrações, não tinha fome, foi o verão mais quente da minha vida (quiçá do século! Exagero!)…Optei por parar de trabalhar.

O tempo passou, tudo estava entrando nos eixos, e quando eu pensava em voltar a lecionar, veio o diagnóstico de autismo do Caio. Me perdi. Me perdi feio! Lembro que, naquele dia, adormeci chorando. E foram muitos momentos assim. Caí, chorei, renasci no dia seguinte, caí e chorei novamente ao anoitecer… Afinal, o que eu, uma professorinha de inglês, sabia sobre TEA?

tea (noum) – chá

Então, depois de alguns DIAS DUROS de luto e olhando para o meu filho, ouvi uma vozinha dentro da cabeça e entendi o que deveria fazer:

“Você não pode trabalhar agora mamãe, mas quer estudar? Então toma! Mete as caras e tenta entender o que é isso que eu sou! You’re my only hope!

Tarefa hercúlea, viu?! Mas lá fui eu ler, pesquisar, reler e tentar compreender a síndrome. Em um determinado momento, estudar sozinha já não era o bastante, decidi voltar para a faculdade e fazer uma pós. Aos trancos e barrancos (uns dias cansada, outros com sono, outros com fome porque não deu tempo de comer nada e, quase sempre, com o cabelo sujo) eu consegui ir para as aulas e me formar.
Quantas mães também meteram as caras nos livros e, hoje, sabem tudo sobre Lei nº 12.764¹, genótipo, CID, TPS, TOD, ABA, DIR/Floortime, etc.

Bom, depois de duas pós e um curso de formação, cá estou eu rumo a mais uma empreitada de estudos (a terceira pós dentro do escopo de terapias para crianças especiais). Pelos filhos, me tornei incansável, invencível, In ius locum²!

Eu estudo, leio, converso com outras mães e ainda não me sinto preparada para educar dois seres. Como criar um menino autista para ser autossuficiente e produtivo? E como educar uma menininha neurotípica para viver nesse mundo de diversidade e intolerância?50940752_2009194679115760_4866683011384475648_o
Fico pensando em o quanto EU MUDEI nesses poucos anos e me pergunto se outras mães mudaram tanto assim também? Será que há um exército de mães mutantes por aí?

Mas, quer saber? O que eu sei sobre a sua maternidade? Nada. Não sei sobre as suas batalhas e nem o quanto lhe resta de força no fim do dia. Só sei que a gente luta, que a gente aprende e muda. MÃETAMORFOSES! 

Então, mamães lindas, HOJE, não vou desejar um feliz dia das mães. Vou desejar força, saúde e paz mental para que a vida se torne um pouco mais leve e para que consigamos (mães e pais) chegar ao fim do dia com a satisfação de dever cumprido (e, se tudo der certo, com o cabelo limpo).

FELIZ HOJE e amanhã e depois e depois….

¹ https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2012/lei-12764-27-dezembro-2012-774838-publicacaooriginal-138466-pl.html

² Expressão latina comumente usada em Direito: ‘No lugar’, ‘no lugar certo’.