A Vitimização da Mãe de Autista

Quando fiquei grávida dos gêmeos, as pessoas sempre tinham alguma coisa pra falar. Ouvi de tudo: ‘Nossa, se um já dá trabalho, imagina dois!’… ‘Você vai ter alguém pra te ajudar, né?’… ‘Como você vai fazer pra trabalhar?’

Cuidar de dois bebês é difícil! A gente vive em estado de alerta, de cansaço e de sono. Mas, dá-se um jeito e tudo funciona bem.

Já, quando digo que Caio é autista, as pessoas se calam, olham pra cima buscando algo pra falar. Silêncio. A impressão que eu tenho é que, imediatamente, passa um filme da minha vida na cabeça delas que se resume a isso:

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Como Caio ainda é muito novo, não sabemos o grau e o tipo de autismo, mas se considerarmos que ele não fala e precisa de ajuda para quase tudo, temos que dizer que Caio é autista grave. (Espero que você não esteja me visualizando na foto acima)

Uma vez, um amigo muito querido que eu não via há anos, me disse: ‘Noooossa, eu sabia pelo que você estava passando!’ Fazendo cara de espanto.

Gente, GENTE, meu filho é autista e tem limitações. Mas, acima de tudo, ele ainda é uma criança. Precisa de ajuda para fazer as coisas que a idade (2 anos e meio) determina: vestir a blusa, calçar o sapato, escovar os dentes ou comer. Caio, assim como a irmã, está tomando consciência dos comandos. E obedece sempre que solicitado. Claro que tudo com ele é mais demorado, pois tenho que pegar seu rostinho, fazê-lo olhar pra mim e dar o comando: ‘Guardar!’ (para guardar os brinquedos)img-20160315-wa0039-copia

É duro sim! Mas, quando você ‘se vê’ mãe, descobre uma força sem limites pra enfrentar adversidades.

Meu dia a dia é puxado, mas não penoso. Cuido dos meus filhos, porque são minha responsabilidade, são meu lazer, são minha alegria! Toda mãe se sente esgotada uma hora ou outra, mas NUNCA deixa de se levantar no dia seguinte e sorrir para seu filho dizendo: ‘Bom dia, seu lindo!

Entendo que muitos não saibam agir depois de ouvir: ‘Caio é autista’. É natural. Ninguém precisa ter uma reação. Eu precisei de tempo pra me acostumar. Você também vai precisar. 😉

Autismo: Quem Cedo Madruga, Passa o Dia Com Sono!

O primeiro ano dos gêmeos foi muito difícil. Acordavam muitas vezes à noite querendo mamar, querendo colo, com cólicas ou pesadelos. Eu acordava (quiçá) a cada 2h, pois sempre tinha um bebê chorando. Quando fizeram dois anos, as coisas melhoraram. Por um tempo. Curto.

Nessa época, logo depois do diagnóstico, Caio começou a ter problemas para dormir. Quando ia colocá-lo na cama, ficava muito excitado (falei um pouco disso aqui), gargalhava nervosamente, queria levantar e correr. Era sempre muito difícil fazê-lo adormecer.

Logo, passou a ter episódios de insônia. Acordava na madrugada e se comportava da mesma forma eufórica e exagerada. Era uma luta fazê-lo dormir novamente. Nisso, perdíamos de 2 à 3h por noite. Gradativamente, as coisas pioraram. Aquelas poucas horas em que Caio ficava acordado, transformaram-se em MUITAS. Hoje em dia, quando isso acontece, não tarda e já é manhã. Não há tempo para nenhuma soneca. É levantar e seguir com a vida: fono, almoço e escola.

Uma vez acordei com a irmã dele me chamando: ‘Mamãe, Caio dormiu! Mamãe!’ Meio sonolenta, pen
sei: o menino acordou e está fazendo bagunça. Corri até eles e Caio estava deitado na cama da irmã, dormindo. Os dois num colchãozinho minúsculo! Sorri, peguei Olivia no colo e coloquei-a na outra cama. Disse que ela iria dormir ali naquela noite. Ok, tudo em paz. Voltei para o meu quarto. Não sei exatamente quanto tempo se passou e Olivia novamente me chamou: ‘Mamãe, Caio dormiu! Mamãe! Ajuda!’ Caio havia levantado e voltado para a cama dele. Opa, para tudo! Ele procurou a irmã duas vezes por algum motivo, né?! Solidão? Medo do escuro? Insônia? Na dúvida, peguei o menino e deitei no chão. Dormimos abraçados.

20160921_202341-copiaNão havia um ‘gatilho’, Caio simplesmente se levantava (como os vampiros de filmes antigos) e fica andando pelo quarto. Ora balbuciando, ora rindo. Algumas vezes ele tinha pesadelos. Chorava e ficava muito angustiado, a ponto de só querer ficar agarrado comigo. Nesses dias, eu tinha que dormir no chão com ele. Porque só com um abraço, ele adormecia novamente.

Numa semana boa, Caio tinha insônia 2 dias. Numa semana ruim, ele acordava 5! Seu rendimento estava caindo nas sessões de fonoaudiologia, na escola e em casa conosco. Levei essa questão ao neuropediatra. Ele disse que insônia e autismo estão diretamente relacionados e ele prescreveu melatonina.

Eu nunca pensei que daria remédio para dormir ao Caio, mas li muito e vi que a melatonina não faz mal* porque é um hormônio natural produzido pelo organismo (no caso do Caio, é ingerida como suplemento alimentar). E, na boa, quando vi meu filho nervoso, mal humorado e cansado TODOS OS DIAS, perdi o medo e resolvi tentar. E quer saber? Super deu certo! Hoje, após tomar o remédio, em 20min, Caio adormece. Pacificamente, vendo televisão ou usando o ipad.

Os episódios de insônia ainda ocorrem. As semanas ruins ainda existem, mas, no geral, ele está se saindo bem. Está ótimo na natação, na fono e terapia. Na escola está aprendendo e se relacionando melhor com os amiguinhos.

*Com prescrição médica.