“Meu filho nada como um peixe, mas não consegue abotoar uma blusa”
“Meu filho é inteligentíssimo, mas não consegue usar o lápis”
Já ouvi isso tantas vezes que nem lembro mais ‘de quem’ ou ‘quando’ ouvi. Não me chamou a atenção ‘o que’ foi dito, mas ‘como foi dito’.
A verdade é que a gente cria GRANDES expectativas para nossos filhos. Quem não imagina seu pequeno formando-se engenheiro, sendo um médico respeitado ou astronauta? (é, talvez astronauta não porque é muito perigoso)
Quando recebi o diagnóstico de autismo do Caio, a primeira coisa que aconteceu foi quebrar a cara. Os sonhos desmoronaram e me perdi como mãe. O que deveria desejar para meu filho? Qual seria o meu papel?
Minhas pequenas, agora, tornaram-se grandes expectativas: falar, amarrar o sapato, abotoar o casaco, comer e tomar banho sozinho, etc.
Eu consegui nesses quase 3 anos, depois de muito me decepcionar e me frustrar (por culpa minha), zerar essas expectativa! Aprendi que as adaptações são uma realidade na vida da criança com deficiência e cabe a mim ajudar meu filho a explorar as opções que o mundo fornece. Esse é o meu papel!
Após conviver de forma consciente com o autismo, percebi que EU não ligo para o que Caio usa nos pés. Chinelos, sandálias, botas, tênis com velcro, tanto faz! Desde que ele o tenha calçado sozinho, pra mim tá valendo!
Outra coisa que não ligo é quanto a escrita. Sinceramente, se eu ganhar uma cartinha digitada no dia das mães, vou morrer de amor! Vou me emocionar tanto quanto se fosse escrita a mão.
O ideal é que eu, como mãe, segure a onda para que minha frustração não reflita em meu filho. Não quero que Caio olhe para mim um dia e pense: ” Pôxa, não consegui agradar minha mãe com isso (ou aquilo) e ela está triste.”
Não. Pelo amor de Deus, Não!
O menino avançou muito este ano: brinca com os amiguinhos da escola, já identifica seu nome na chamada, sabe os animais, procura mais a companhia da irmã… Agora, só falta falar, né?
Opa, olha o monstro da expectativa aí novamente.
Confesso que, quando penso que Caio é autista não verbal, bate um desânimo. Mas, procuro me lembrar que, todos os dias quando vou buscá-lo na escola, o menino abre o sorriso mais lindo do mundo, corre em minha direção, me abraça e me beija babadamente! Bem, isso não é dizer que me ama? Claro que sim! Fico repetindo que não preciso de uma voz me chamando de “mamãe”, porque a felicidade que quero pra ele tem que ser livre de preconceitos. A começar pelos meus. Mas, a gente segue! Juntos!