Para a pessoa autista nem sempre o caminho mais rápido (ou tradicional) é o fácil; as coisas não seguem “seu rumo” e não dá para deixar a vida nos levar, porque só Deus sabe onde vamos parar. Ou se vamos sair do lugar.
Por esses motivos que, aqui em casa, lutamos para manter a rotina e seguir com o cronograma para que Caio não se sinta perdido/inseguro e se desregule. Se não tem aula, procuramos fazer um programa fora de casa naquele horário em que ele estaria com os amigos. Se tem festinha e TUDO fica barulhento de repente, levamos o tablet com fone para que ele possa se concentrar no que lhe é familiar (os desenhos), esquecer um pouco o que estava incomodando e se acalmar.
Já saímos de algumas festinhas de aniversário mais cedo porque Caio teve sobrecarga sensorial, estereotipou até cansar, deitou no meu colo e dormiu. Já saímos no meio de um filme porque Caio não parava sentado na cadeira e soltava gritinhos o tempo todo. Sempre que vamos comer pastéis no barzinho, já sentamos fazendo o pedido + a conta (porque o limite do Caio é uns 30min). Já saí do banho com o cabelo cheio de shampoo porque Caio (que já estava deitadinho, na paz em sua cama) começou a chorar MUITO do nada (meltdown).
Na maior parte das vezes, esses momentos acontecem em casa ou entre amigos. Todo mundo super entende e sabe que nem sempre as coisas com o autista saem como o esperado. Mas, e quando acontece na rua, entre estranhos?
O prédio onde moramos é um pequeno exemplo de como o mundo não está preparado para o autismo (transtorno que não possui características físicas). O meu bloco tem dois elevadores: social e de carga.
Não sei por que bulhufas Caio decidiu que só sobe ou desce no elevador de carga. Já tentei levá-lo com o abafador de ruídos, tablet + abafador, tablet + abafador + colinho de mamãe e nada! Ele sente um verdadeiro terror ao passar pelo elevador social. Não chega nem perto da porta e fica de longe gritando, tampando os ouvidos e chorando. Olha, se eu acreditasse em fantasmas ou demônios, eu diria que aquele elevador social do meu prédio é possuído.
E como a vida não facilita, sempre encontramos com alguém no hall dos elevadores… Seja segurando a porta (nos esperando) ou dizendo: “esse aqui chegou!”.
Na primeira vez eu disse: “vou esperar o elevador de carga, obrigada!”
A outra pessoa fez cara de nojo. “Fresca!”
Bem, na segunda vez eu disse: “Caio prefere ir no de carga, obrigada”.
Depois que as pessoas entraram no elevador, foi possível ouvi-las conversando:
“E tem isso de preferência?”
“Se é meu filho, vai entrar e pronto.”
“Credo!”.
Credo! digo eu, minha cara!
Precisamos ter mais empatia com o próximo. Não sabemos das suas batalhas, nem da força que lhe resta no fim do dia. Então, caro vizinho, vá na paz! Que esse elevador tenha cabos fortes e roldanas poderosas para lhe levar até o seu andar! E que não tenha fantasmas de moradores anteriores habitando seu interior.
Resolução para o problema: é difícil subir e descer as escadas 4 ou 6 vezes por dia com Caio, mas preferimos assim. Para não ter que ouvir mais comentários sobre a minha “frescurità” e nem sobre minha “maternidade frouxa”. De quebra acompanho meu filho e, ainda faço trabalho cardiorrespiratório de graça.