Autismo: Atribuindo Tarefas & Desenvolvendo o Senso de Responsabilidade

Por muito tempo não atribuí afazeres domésticos ao Caio (tem um texto sobre isso aqui). Na época, eu achava que ele não conseguiria desempenhar uma tarefa simples como ajudar a arrumar a cama ou dar a comida para o cachorro. Bem, como a vida nunca perde a oportunidade de dar uma rasteira… Vraummm! Meu filho se mostrou mais capaz do que eu imaginava.

Me deixei levar pelos sintomas do autismo e perdi o foco do que realmente importava: seu desenvolvimento. O que eu poderia fazer para compensar? Engolir o choro e bolar uma strategie. Primeiro, pensei em qual responsabilidade atribuir ao menino e como fazer acontecer. Segundo, repetir essa tarefa até Caio entender o que deveria ser feito e, só então, introduzir uma nova.
Comecei com a comida do cachorro. Afinal, é seu companheiro amoroso e dedicado (texto sobre os dois aqui).

Vamos dar comida para o Logan?IMG_20180721_174627870
Pega a tigela, por favor.
Coloca a comida.
Leva para ele.
Obrigada.
Dá um Hi-5!

O segredo é todo dia um pouquinho!
Se Caio suja o chão derrubando biscoito, por exemplo (o que acontece sempre), ele deve pegar o pano na pia e limpar.

Caio, caiu comida no chão. Tem que limpar.
Vamos pegar o pano?
Passa no chão, por favor.
Coloca o pano novamente na pia.
Obrigada.
Dá um abraço.

Volta e meia também peço para que me ajude a fazer o pão preferido da vovó. Vou dando os ingredientes e ele vai despejando na forma. Lógico que ele mete a mão em tudo: ovo, farinha, manteiga… Eu deixo (vovó nem sabe o que já rolou naquela massa de pão maravilhosa… :D).

 

 

Abriu, fechou. Caiu, coloca no lugar. Usou, guardou. Comemorando sempre ao final de cada empreitada. O reforço positivo ressalta na criança a satisfação de dever cumprido. E Caio é um garotinho e se sente feliz em ajudar nos afazeres de casa.
Enquanto as terapias trabalham as questões do autismo (sensorial, comportamental) eu, a mãe, ajudo meu filho a desenvolver o pessoal; amadurecer vivenciando as coisas que uma criança de 4 anos vive.
É chato repassar as mesmas tarefas todos os dias! É sim, eu sei, mas é assim que é a vida do autista. Rotina e perseverança!
Hoje, já é possível ver como Caio evoluiu. Muitos afazeres eu só início o comando: guardar brinquedos. E lá vai ele passar por todo o processo sozinho e confiante.

Vraummm! Na cara de quem não acreditou no potencial do filho!

Autismo: Irmão que ajuda irmão, tem 100 anos de paixão!

Desde que Caio e Olivia nasceram, um ignorava a presença do outro. Foi assim por muito tempo.

Eu, como toda mãe (de gêmeos em especial), colocava-os juntos para tirar foto, dormir, mamar, assistir TV… Sempre tentando fazê-los interagir. Não adiantava. Eles não se notavam, não brincavam, nem se olhavam.

Quando começaram a andar, foi que Caio tomou a iniciativa. Ia atrás da irmã, lhe estendia a mão, fazia barulhinhos com a boca para chamar a atenção. E ela nem ligava.

Aos 2 anos foi que a coisa degringolou de vez. Ia um pra direita, outro pra esquerda. A menina queria brincar com bonecas, vestir as roupas dos pais, se olhar no espelho…. Já o Caio, começou a demonstrar as características do autismo: se isolava com seus dinossauros e ficava com os carrinhos de ponta cabeça girando as rodas.

Começaram as terapias, a escola, a insistência da mamãe em fazer a recreação, o jantar, as brincadeiras no banho… JUNTOS. Desta vez, foi Olivia quem procurou o irmão, mas como ele não respondia (e, quase sempre, saia correndo) a menina se chateava e dizia: “o Caio não quer brincar comigo!” E ela também saia correndo. Novamente encarei a situação de um filho para um lado, um filho para o outro. Me doía o coração ver que eles não eram amigos. E machucava mais pensar que, talvez, nunca viriam a ser.

Tentei explicar para Olivia que ela precisava “aprender” a brincar com o irmão. Dei algumas orientações:

“Quando oferecer um brinquedo, é preciso que você, minha filha, olhe nos olhos do Caio e espere até ele responder. Se demorar muito, você fala de novo, tá?”

“Quando quiser chamar seu irmão para brincar, pegue na mão dele e o chame. Ele vai entender.”

Também tive que pensar em um jeito de Caio se comunicar com a irmã. Sempre que o menino a machucava eu dizia que “foi sem querer”, mas que ele deveria se desculpar. Foi assim que Caio aprendeu a passar a mão nos rosto das pessoas como pedido de desculpas (ou dar um beijinho). Constantemente envolvia os dois em um abraço.

Ficamos nessa por dois anos. Eu, numa ponta do triângulo, tentando unir os gêmeos, Olivia na outra ponta magoada com o irmão que não ligava para ela e Caio na outra girando rodas, correndo e sacudindo as mãos. Um cenário triste. MAS, a vida recompensa o esforço e a determinação de uma mãe!

Um belo dia, os dois dançaram juntos! Olivia era a princesa (lógico) e Caio o príncipe. Ela cantou e mostrou ao irmão como brincar. No início, ele ficou meio perdido, meio sem jeito, mas deixou a irmã guiá-lo. E, no fim, estava se divertindo muito. Aí, coração da mamãe aqui explodiu de tanto amor! Vê-los sorrindo e interagindo foi sublime! Eu que cheguei a pensar que teria que viver naquela luta de falar pelo Caio que ele ama a irmã e de fazê-la entender que ele não fala mas sente muito amor por ela.
Hoje, estou feliz da vida vendo os dois brincarem juntos (não é sempre, mas já vale a pena)!

Dá uma sensação monstro de dever cumprido, sabe? Confesso que o tempo ajudou muito. Quanto mais maduro, mais Caio compreende as coisas.

Hoje, tenho dois filhos que brincam de correr, de cócegas, de jogar basquete, de nadar, de boiar, de ver tv… Muito trabalho e fé que uma hora a coisa anda, minha gente!